O mercado varejista brasileiro está enfrentando talvez um de seus momentos mais difíceis, conforme empresas nacionais de grande porte enfrentam alta concorrência com gigantes de e-commerce internacionais como Amazon e AliExpress.
As dívidas crescentes de muitas dessas empresas são um problema adicional, tornando ainda mais caro refinanciar no cenário atual. Um exemplo que ainda reverbera internacionalmente é o “Caso Americanas”, levando a exigências maiores em termos de prêmio de risco para as operações no setor.
Desafios Específicos dos Varejistas
Thiago Macruz, especialista em varejo do Itau BBA, destaca o atual período como sendo “talvez do pior momento para o varejo brasileiro”. Empresas que atendem principalmente clientes de baixa renda sentem ainda mais o impacto.
Os primeiros sinais de tensão já são evidentes. Grandes varejistas como a Casas Bahia e Tok&Stok estão buscando maneiras de reestruturar suas dívidas e obter injeções de capital. Mesmo outros nomes notáveis como Magazine Luiza e C&A estão sentindo o impacto, com seus títulos locais sofrendo maior prêmio de risco.
Medidas do Banco Central e Impacto nas Taxas
Com o intuito de suavizar a pressão sobre os mutuários, o Banco Central do Brasil tem implementado cortes nas taxas. Especialistas preveem que a taxa Selic possa chegar a 9% até o final de 2024, a partir dos atuais 12,75%. Contudo, os benefícios desses cortes ainda não se refletiram plenamente no setor de varejo.
Endividamento Crescente antes da Pandemia
Antes mesmo da pandemia, varejistas brasileiros já estavam aumentando seus níveis de endividamento, seduzidos pelas taxas de juro em queda e pela demanda local por seus títulos. Esse movimento teve repercussões na oferta de crédito a clientes, expandindo opções de financiamento e assumindo riscos maiores. A estratégia, no entanto, teve consequências, como demonstrado pelo prejuízo reportado pela Lojas Renner em seu setor de serviços financeiros.
Adaptando Estratégias de Crédito
Dada a realidade de altos índices de inadimplência, empresas estão repensando suas políticas de crédito. Alexandre Muller da JGP ressalta a importância de equilibrar crescimento e risco, observando que “não é um bom negócio gerar crescimento de receitas à custa de um aumento nos empréstimos inadimplentes”.
Oportunidades na Dívida Varejista e Ativos de Segurança
Apesar dos desafios, algumas empresas ainda são vistas com otimismo por investidores, como a Guararapes, dona da Riachuelo. A presença de ativos tangíveis, como shoppings, pode servir como garantia em cenários de necessidade de financiamento.
E-commerce: Novas Regras e Desafios
Enquanto varejistas tradicionais lutam para se manter, empresas de e-commerce, como Mercado Livre e Amazon, não estão imunes a desafios. Novas regulações governamentais permitem isenções fiscais para vendas de produtos importados até US$ 50, intensificando ainda mais a competição.
Perspectivas Futuras e Busca por Oportunidades
Apesar do clima de incerteza, alguns investidores acreditam que o pior já passou. Com a implementação de medidas como o programa “Desenrola”, há uma esperança de alívio para consumidores e varejistas. Alessandro Arlant da Dahlia Capital destaca que, mesmo em tempos desafiadores, existem oportunidades para aqueles dispostos a analisar com cuidado e discernimento o mercado varejista brasileiro.