O BRICS, um agrupamento econômico composto por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e mais seis países, está enfrentando dificuldades para renovar sua Estratégia de Parceria Econômica para o quinquênio 2025-2030. A reportagem publicada pelo jornal Valor Econômico, escrita por Assis Moreira, destaca que a iniciativa encontrou resistência especialmente da Índia, por conta das crescentes pressões do então presidente dos EUA, Donald Trump, sobre os países emergentes.
Lançada em 2020 na cúpula em Moscou, a parceria tinha como objetivo intensificar a cooperação nos setores de comércio, investimentos, economia digital e desenvolvimento sustentável. O documento original enfatizava a necessidade de resistência diante da incerteza global causada por medidas unilaterais e protecionistas, que contrariam as normas da Organização Mundial do Comércio (OMC). Contudo, o plano de renovação evita temáticas sensíveis como moeda única e desdolarização, focando em meios alternativos de pagamento.
A despeito do caráter comedido do plano, as negociações encontram-se paralisadas desde o início do ano devido à oposição da Índia. A proposta deveria ter recebido aprovação em maio, durante a reunião dos ministros do Comércio em Brasília, mas divergências indianas mantiveram certas cláusulas em aberto. Na cúpula dos líderes do BRICS realizada no Rio de Janeiro, em julho, os negociadores não conseguiram avançar nas tratativas.
O entrave indiano decorre principalmente do interesse em preservar laços positivos com Washington. Segundo Subrahmanyam Jaishankar, ministro das Relações Exteriores da Índia, as relações com os EUA estão em excelente estado. Durante as discussões do BRICS sobre desdolarização, Trump se manifestou hostilmente, frisando que a Índia não tem interesse em desvalorizar o dólar.
Concomitantemente, há uma escalada das intimidações por parte de Donald Trump, que ameaçou impor uma tarifa de 10% a qualquer país que se filiasse ao bloco considerado por ele como “antiamericano”. Durante a cúpula no Rio, ele anunciou a chamada “Tarifa Bolsonaro”, com alíquotas de 50% sobre produtos brasileiros, refletindo a tensão crescente entre as nações.
No caso específico da Índia, Trump tem criticado as elevadas tarifas de importação e os laços militares com a Rússia. Ele acusa Nova Déli de ser um dos maiores compradores de equipamento militar e energia de Moscou, num período em que a comunidade internacional busca coibir as ações russas na Ucrânia, como comentou em suas redes sociais.
Uma visão geral sobre o BRICS e suas atuais dificuldades
Em meio ao tumultuado cenário global, a pressão dos EUA adiciona uma camada extra às complexas relações diplomáticas e econômicas dos países do BRICS. A proposta de renovação da parceria visa mitigar a imprevisibilidade global, mas a resistência da Índia, influenciada pelo desejo de manter boas relações com Washington, tem sido um obstáculo significativo.
Este impasse demonstra não apenas as forças geopolíticas em jogo, mas também a importância do BRICS como um bloco de diálogo e cooperação entre economias emergentes. A escalada de tarifas e retórica por parte dos EUA indica um cenário de rearranjo global, cujos desdobramentos poderão impactar a paisagem econômica e política mundial nas próximas décadas.
Além disso, a pressão exercida sobre a Índia para reconsiderar seus laços com a Rússia revela as complexidades inerentes ao cenário internacional. As implicações de um afastamento ou alinhamento com determinados países carregam profundas ramificações que vão além das considerações puramente econômicas.
Características do BRICS
- Composição: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
- Objetivos: Cooperação em comércio, economia digital e sustentabilidade.
- Desafios: Resistência interna, especialmente da Índia.
- Pressões externas: Ameaças tarifárias dos EUA.
- Abordagem: Evitar temas polêmicos como desdolarização.
Benefícios da Parceria do BRICS
Os benefícios da parceria econômica do BRICS são evidentes na forma como os países membros podem potencializar suas economias mediante colaboração mútua. A ampliação do comércio e investimento inter-regional beneficia especialmente as nações com taxas de crescimento acelerado, que buscam diversificar seus mercados e criar novas oportunidades econômicas.
O desenvolvimento de iniciativas no campo da economia digital representa um avanço em direção ao futuro, permitindo que os países membros do BRICS compartilhem tecnologias inovadoras e práticas de negócios digitais. Isso não apenas impulsiona o crescimento interno, mas também fortalece a posição coletiva do BRICS no cenário global.
Além disso, o comprometimento com o desenvolvimento sustentável faz parte de um esforço conjunto para enfrentar questões ambientais prementes. Cada nação, através dessa parceria, é incentivada a implementar políticas que promovam energias limpas, conservação dos recursos naturais e práticas economicamente viáveis e socialmente responsáveis.
- Oportunidades de mercado ampliadas.
- Transferência de tecnologia entre os membros.
- Promoção de práticas de desenvolvimento sustentável.
Por outro lado, os desafios à implementação efetiva e coesa dos objetivos delineados requerem uma postura diplomática e estratégica meticulosa dos países membros. A resistência interna, exemplificada pela posição inflexível da Índia, e as pressões externas, como as sanções dos EUA, agem como barreiras a serem superadas por meio de diálogo e negociações contínuas.
Manter a relevância do BRICS num contexto de mudanças globais exige não apenas resiliência econômica, mas também uma abordagem política que considere as complexidades das relações internacionais. A adaptação a um mundo multicêntrico e heterogêneo é crucial para que o BRICS consolide sua posição de influência globalmente.
Assim, o BRICS representa não apenas uma entidade econômica, mas também um símbolo de resistência e adaptabilidade diante das forças geopolíticas. Ao promover soluções cooperativas e pragmáticas, este bloco possibilita que cada membro alcance objetivos que podem não ser atingíveis individualmente.