A crescente popularidade de Donald Trump nas pesquisas eleitorais para a presidência dos Estados Unidos está sendo observada de perto pelos mercados internacionais, com potenciais repercussões para a América Latina. Em dois levantamentos divulgados nesta sexta-feira (25), o candidato aparece tecnicamente empatado com a atual vice-presidente Kamala Harris.
A pesquisa do jornal The New York Times aponta 48% das intenções de voto para cada candidato, enquanto o levantamento da CNN registra 47% para ambos.
Se a eleição americana fosse hoje, os dois candidatos estariam praticamente empatados em votos populares, e a decisão dependeria da distribuição de delegados pelo sistema do Colégio Eleitoral.
Sob a ótica de uma possível vitória de Trump, uma análise recente do Bradesco BBI revela como o impacto de um segundo mandato do republicano poderia se refletir nos mercados emergentes e em setores específicos, considerando fatores como volatilidade do câmbio, balança comercial e a exposição de empresas a mercados norte-americanos e chineses.
Em meio a especulações e incertezas, países como Brasil, México, Colômbia e Chile apresentam diferentes graus de sensibilidade a uma possível mudança de administração nos EUA.
A possibilidade de Trump retornar à Casa Branca tende a levar a uma valorização do dólar e aumento nos rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA, segundo o BBI.
Esses movimentos, se consolidados, pressionariam os países latino-americanos com desvalorização cambial e a necessidade de manter ou elevar as taxas de juros para conter uma possível inflação importada, especialmente em países com elevada dívida externa e inflação controlada pelo câmbio.
No caso do Brasil, analistas do Bradesco BBI afirmam que a combinação de dólar valorizado e títulos americanos em alta tornaria o real mais vulnerável, apesar da potente balança comercial.
A vitória de Donald Trump poderia intensificar ainda mais a pressão de alta sobre o dólar no Brasil, com o movimento já sendo antecipado: o dólar superou R$ 5,70 nos últimos dias, subindo em relação a diversas moedas de países emergentes.
Para o México, que tem forte dependência das exportações para os EUA, a volatilidade cambial agravaria o cenário econômico já pressionado, dificultando ainda mais o custo de importação e os investimentos produtivos.
O peso mexicano pode sofrer quedas, enquanto a Colômbia, que enfrenta desafios semelhantes ao México, pode se beneficiar da diversificação dos investimentos americanos em sua economia.
O governo Trump, historicamente avesso à dependência de produtos chineses, tende a retomar políticas protecionistas e reavaliar acordos comerciais.
O aumento das tarifas sobre importações chinesas, caso sejam implementadas novas barreiras de 10%, poderia impactar significativamente as exportações de commodities da América Latina, um mercado dependente das trocas comerciais tanto com os EUA quanto com a China.
Empresas brasileiras com grande exposição à China e exportadores de produtos industrializados podem sofrer com a queda na demanda chinesa, que já enfrenta dificuldades econômicas.
O Brasil, maior exportador de produtos agrícolas para os dois mercados, precisaria reavaliar suas parcerias estratégicas em um contexto de guerra comercial EUA-China.
Para exportadores de carne bovina e soja, por exemplo, isso significaria um potencial ajuste nos contratos de venda e a busca por novos mercados para absorver o excedente.
Se, por um lado, o retorno de Trump à presidência representaria desafios para o setor externo de países latino-americanos, algumas empresas brasileiras e chilenas, especialmente aquelas com exposição ao mercado americano, poderiam se beneficiar do incentivo ao setor energético e das políticas de desregulamentação econômica defendidas pelos republicanos.
O setor de petróleo e gás, com empresas como a brasileira Petrobras (PETR4) e a chilena Enap, poderá observar um crescimento nas exportações para os EUA, caso Trump mantenha o estímulo fiscal para o setor energético.
No entanto, empresas latino-americanas com dívidas em dólar e dependência do mercado doméstico, como Lojas Renner (LREN3) e Magazine Luiza (MGLU3), podem ser prejudicadas, sobretudo diante de um cenário de juros elevados. A valorização do dólar pressionaria os custos operacionais de empresas nos setores de varejo e construção civil, aumentando o endividamento e impactando a margem de lucro.
Para o setor de aviação, Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4) também enfrentariam dificuldades, com o encarecimento de combustíveis e custos de leasing em dólar, reduzindo o potencial de expansão.
Os analistas do BBI observam que, para a América Latina, as políticas de imigração restritivas de Trump poderão prejudicar o México em particular, afetando o fluxo de mão de obra e remessas financeiras enviadas por migrantes.
Em um movimento secundário, a redução da força de trabalho e dos investimentos em infraestrutura enfraqueceriam a economia mexicana, enquanto o Brasil e o Chile poderiam se beneficiar como alternativas para investimentos americanos.
No Brasil, as perspectivas são complexas. Se, por um lado, o governo pode ser favorecido por uma política externa americana mais próxima dos interesses empresariais, por outro, o fortalecimento de medidas protecionistas pode afetar negativamente setores dependentes de tecnologia e maquinário importado.
Com a desvalorização cambial e possíveis embargos comerciais, o Brasil precisaria reavaliar suas parcerias e adaptar-se a novos entraves tarifários, principalmente em commodities.
Analistas apontam que o favoritismo de Trump é um evento de volatilidade, mas os efeitos potenciais já estão parcialmente precificados nos ativos de mercados emergentes. O cenário sugere um reforço nas “Trump trades” – investimentos em ouro, bitcoin e ativos ligados à inflação nos EUA –, enquanto os mercados europeus e emergentes permanecem sob pressão.
A resiliência de países com economias diversificadas, como Brasil e Chile, também está sendo levada em conta, com investidores internacionais observando a estabilidade política e os avanços em reformas econômicas na América Latina.