Com vestes de assistência social, o Desenrola Brasil foi anunciado pelo Ministério da Fazenda em julho do ano passado. A proposta do governo era reduzir as dívidas e a inadimplência da população.
Na prática, o programa opera como uma transferência de recursos para os cofres dos bancos.Mesmo sem liquidar as dívidas, os nomes dos devedores serão “limpos”.
Em outras palavras, eles poderão solicitar novos empréstimos e, consequentemente, aumentar seus gastos. Quem irá garantir as dívidas? O próprio governo, que atuará como um “fiador indireto” das transações. É a conhecida fórmula econômica do PT de tentar impulsionar o crescimento por meio do consumo a qualquer custo.
Para isso, o Tesouro Nacional irá desembolsar R$ 57,5 bilhões no programa, através de garantias de dívidas não pagas e renúncias fiscais em benefício dos bancos. Esse montante é mais do que o dobro de todos os investimentos públicos federais em infraestrutura realizados no Brasil no último ano. A grandiosidade desse uso de recursos públicos é facilmente justificável: muitos brasileiros não conseguiram quitar suas dívidas.
De acordo com dados da Serasa Experian, mais de 70 milhões de cidadãos no Brasil estão com contas em atraso. Aproximadamente 40% da população adulta está com restrições no nome e, por isso, não consegue obter crédito adicional e, consequentemente, consumir mais.
“O governo espera que, com o nome limpo, as pessoas aumentem seus gastos, voltem a parcelar compras, movimentando os setores de eletrodomésticos, automóveis, imóveis, entre outros”, explicou Alison Correia, fundador da Top Gain, empresa do mercado financeiro, e autor do livro “O Sobe e Desce da Bolsa e da Vida”.
“Mas as coisas não estão tão boas quanto parecem.”Bancos interessados no Desenrola BrasilO governo apresentou o programa em conjunto com a Federação dos Bancos (Febraban), e todos os grandes bancos aderiram.
As cinco maiores instituições financeiras do Brasil – Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal -, que representam cerca de 70% do mercado de crédito, anunciaram no mesmo dia sua participação no programa. Banrisul, Daycoval, Inter, PagBank e Pan também aderiram em seguida.
O Nubank hesitou, mas decidiu participar após intervenção do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.Para ingressar no Desenrola, os bancos tiveram que “perdoar” dívidas de inadimplentes de até R$ 100. O valor da dívida não foi cancelado, mas o CPF do devedor foi desvinculado de restrições.
Essa foi a única exigência concreta de boa vontade solicitada pelo Executivo às instituições financeiras. Os bancos foram inundados por solicitações de renegociação. A Caixa chegou a abrir suas agências mais cedo para atender a essa demanda imensa.
Em menos de três semanas, quase 5 milhões de pessoas tiveram suas restrições removidas, aproximadamente R$ 5,4 bilhões foram renegociados em quase 1 milhão de contratos.
Os problemas do Desenrola começaram nesse momento. O programa, que parecia direcionado para os mais necessitados, demonstrou favorecer os cidadãos mais ricos desde o início.Na Edição 177 da Revista Oeste, Carlo Cauti explica os motivos pelos quais o Desenrola Brasil é uma farsa.