A situação dos serviços de saúde se agrava à medida que os hospitais enfrentam desafios com os atrasos de pagamento por parte das operadoras.
Um recente levantamento feito pela Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados) entre finais de agosto e início de setembro, envolvendo 48 de seus hospitais membros, destacou que os débitos pendentes das empresas de planos de saúde atingem aproximadamente R$ 2,3 bilhões.
Esse valor corresponde a 16% das receitas totais dos hospitais participantes, que totalizaram R$ 14,6 bilhões. Esses números refletem os serviços prestados nos primeiros sete meses do ano, seja em urgências, procedimentos diagnósticos ou solicitações de internação.
Desafios com Cobranças
O relatório também abordou outro problema: cobranças feitas pelos hospitais que foram recusadas pelas operadoras sem justificativas técnicas claras.
O montante em disputa dessas cobranças é de R$ 1,29 bilhão, o que representa 9% da receita bruta total dos hospitais que participaram da pesquisa. Em comparação com dados anteriores, essa porcentagem está bem acima da média histórica de 3,5%.
Antônio Britto, figura de destaque na Anahp, chama a atenção para o prolongamento no tempo de recebimento das contas hospitalares. Anteriormente, a média era de 70 dias, e agora saltou para 120 dias.
“O trâmite todo vem ficando cada dia mais burocrático e com mais entraves que dificultam, inclusive, a cobrança pelo pagamento dos serviços prestados. O paciente chega ao hospital, é atendido, recebe todos os cuidados necessários e aí os prestadores não conseguem rever esse valor investido no atendimento”, expressa Britto.
Britto ressalta que a problemática não se limita apenas aos membros da Anahp, mas estende-se a quase 4 mil instituições hospitalares privadas e filantrópicas no Brasil, incluindo uma vasta gama de prestadores de serviços, como clínicas e centros de diagnóstico. Ele enfatiza:
“Reconhecemos as dificuldades das operadoras, mas é indispensável que todos entendam: nós estamos enfrentando uma crise estrutural e a solução do problema só virá a partir do momento que o setor trabalhar de forma conjunta, no entendimento de que uma saúde suplementar saudável só é possível com a sustentabilidade de todos os players”.
Performance Financeira das Operadoras
Os primeiros seis meses do ano viram as operadoras de saúde atingirem um lucro líquido de R$ 2 bilhões, conforme os dados fornecidos pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar). Esses números correspondem a cerca de 1,3% da receita total no semestre, que somou quase R$ 154 bilhões.
Assim, para cada R$ 100 em receita no primeiro semestre de 2023, as operadoras lucraram R$ 1,3. A taxa de sinistralidade no semestre foi de 87,9%, ligeiramente inferior à do ano anterior. Segundo a ANS, grandes operadoras contribuíram significativamente para este desempenho, indicando que quase 88% das receitas dos prêmios são gastas em custos assistenciais.
Jorge Aquino, responsável pela Diretoria de Normas e Habilitação das Operadoras, analisa a situação, declarando: “Estamos vendo que a rentabilidade das operadoras está vindo, de maneira geral, do rendimento das operações financeiras.
Essa situação não é desejável, afinal, a operação de plano deve ser sustentável por si só. As operadoras, então, precisam rever sua gestão e analisar onde podem melhorar. É muito importante ter um estudo de atuária mais prospectivo, com análise de cenários e dos impactos possíveis”.
Perspectiva das Operadoras de Saúde
A Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde) destaca o papel crucial dos planos de saúde no Brasil e como eles têm se esforçado para atender às demandas de seus clientes, apesar dos desafios operacionais. Um comunicado informa que em 2022 as operadoras enfrentaram um prejuízo operacional de R$ 10,7 bilhões, o maior desde 2001.
No primeiro semestre de 2023, o déficit já atingiu R$ 4,3 bilhões e espera-se que continue crescendo. A Abramge atribui parte dessa situação a fraudes variadas, desde a falsificação de identificações até reivindicações duplicadas e fraudulentas e cobranças excessivas.
“De janeiro a junho de 2023, a conta já está negativada em R$ 4,3 bilhões, e a perspectiva é que, até o fim deste ano, o valor continue crescendo. Isso ocorre, em muita parte, pelos impactos significativos decorrentes de diversas fraudes, incluindo empréstimos e falsificação de carteirinhas, uso indevido para procedimentos estéticos, reembolsos de consultas duplicados e fraudulentos, além de materiais superfaturados”, esclarece a associação.
A entidade reitera que todos os atendimentos realizados estão provisionados e que uma análise mais detalhada dos serviços já foi implementada.