A crise migratória, um tópico crucial no cenário mundial, alcança novos picos na Tunísia. Embarcando de Sfax, uma cidade costeira, deparamo-nos rapidamente com essa situação crítica.
Em nossa breve jornada marítima, não demorou para que uma embarcação repleta de migrantes aparecesse em nossa trajetória. Com prontidão, lançamos mão de lanchas ágeis para socorrê-los e, assim, guiá-los em segurança de volta.
Sfax, estrategicamente situada a escassos 200 km de Lampedusa, Itália, surgiu como um ponto crucial. Aqui, traficantes oportunistas se aproveitam da esperança dos migrantes que anseiam por uma vida melhor.
Mudanças nas Vias de Migração
Antes, a Líbia surgia como o principal ponto de acesso à Europa. No entanto, graças ao fortalecimento das patrulhas e intensificação das deportações em 2022, os migrantes ajustaram seu curso, direcionando-se à Tunísia.
Diante desse panorama, a Comissão Europeia propôs reforçar a segurança nas fronteiras tunisianas através de substanciais auxílios financeiros.
O Alto Preço da Esperança
Os dados divulgados pela ONU destacam a urgência da situação. Nos primeiros seis meses de 2023, a quantidade de detenções de migrantes excedeu 54 mil, quase duplicando os números do ano anterior.
Ainda mais preocupante, o registro de vidas perdidas nesse trajeto alcançou o alarmante número de 2.000. Nossas missões revelam o desespero desses viajantes. Em uma das interceptações, os gritos foram inequívocos:
“Deixe-me ir para a Itália” e “Eu apenas vou recomeçar a vida”.
A Realidade da Jornada
Os perigos da travessia se manifestam a cada novo resgate. Histórias de fome, sede e escapadas de regiões conflituosas são frequentes entre os migrantes.
A esperança de alcançar o continente europeu tem um custo, variando entre 1.200 e 6.500 dinares tunisianos. No entanto, as tentativas frustradas agravam a situação financeira destes indivíduos, lançando-os em um ciclo vicioso de endividamento.
Marcas da Travessia
Navegando próximo à costa, nos deparamos com sinais dolorosos da travessia. Artigos pessoais flutuam no mar, enquanto nas praias de Sfax, inúmeras sepulturas anônimas marcam o fim da jornada para muitos.
Repercussão para a Comunidade Local
O comércio de tráfico humano tem seus vilões: os contrabandistas. Muitas vezes, seus barcos, inadequados para longas viagens, são rapidamente apreendidos.
Pescadores locais se preocupam com os destroços dessas embarcações, que ameaçam suas redes. Ainda, o impacto emocional ao deparar-se com vítimas desta travessia, especialmente crianças, é devastador.
Desafio Persistente
Ao concluir nossa patrulha, a resiliência dos migrantes era evidente. Após serem resgatados e retornarem à costa, muitos já planejavam uma nova tentativa.
Diante do questionamento sobre o perigo da travessia, Adel Adbullah, um migrante oriundo do Sudão, retrucou:
“Fugi da guerra. Não creio que verei algo pior no mar do que já vi. Não tenho nada a perder.”