As oscilações das taxas de juros têm mais do que apenas um efeito no mercado financeiro. Essas taxas, mesmo com recentes reduções, têm consequências diretas em vários setores, especialmente no mercado de ações. Uma delas é o surgimento crescente de penny stocks – ações que valem menos de R$ 1.
Dados fornecidos pela Economatica, conforme solicitado pelo InfoMoney, revelam que atualmente o mercado de ações brasileiro tem nove dessas penny stocks.
Interessantemente, houve um momento em março deste ano em que 15 ações estavam sendo negociadas por menos de R$ 1. Além disso, agrupamentos de ações, onde ações são combinadas para aumentar seu valor nominal, estão no seu nível mais alto desde 2016. Até o momento, 18 empresas já consolidaram suas ações, com ainda três meses restantes para o ano acabar.
A Ação de Grupamento e Seus Implicados
Alguns dos atores conhecidos que aderiram ao agrupamento em 2023 são Marisa (AMAR3), Méliuz (CASH3) e Oi (OIBR3). Existem empresas, como o Grupo Casas Bahia, que em breve terão que seguir o mesmo caminho, visto que seu valor de ação está abaixo de R$ 1.
“Não existe nada ‘de graça’ no mercado sem uma razão. Aquela ação que caiu de R$ 20 pra R$ 0,80 não ficou mais barata, e sim enfrenta problemas que podem fechar suas portas”, destaca um analista.
A razão para esses agrupamentos? B3, a principal bolsa de valores do Brasil, possui regras claras: ações não devem ser negociadas por menos de R$ 1. Se uma empresa quebra essa regra, ela tem 30 dias para fazer um agrupamento.
O Contexto Histórico: Taxas de Juros e Seu Impacto no Mercado
Entre 2014 e 2016, o Brasil enfrentou uma recessão profunda, e uma das respostas foi o aumento da taxa de juros para controlar a inflação. Uma situação semelhante aconteceu entre 2021 e 2023.
Certos segmentos do mercado, como varejo e construção, são especialmente vulneráveis a taxas de juros elevadas. Em 2023, muitas empresas desses setores realizaram agrupamentos, principalmente devido aos desafios trazidos por altos patamares da Selic.
Riscos e Considerações Sobre Penny Stocks
O fenômeno das penny stocks não é algo isolado. Muitas dessas ações, antes populares entre os investidores, enfrentaram desvalorizações significativas. Algumas das empresas mais notáveis neste cenário incluem Grupo Casas Bahia, Méliuz e Oi.
“Se a empresa fizer um grupamento na proporção de 10 pra 1, cada dez ações que o acionista tinha se transformam em uma. Em termos de valor investido, não muda nada, mas a liquidez dessas ações pode ser afetada, caindo ainda mais.
Por ser penny stock, muitos fundos de investimento nem olham para elas. Dependendo do tamanho do investidor, ficará difícil sair sem tomar prejuízos”, opina um especialista da Ticker.
Reflexões e Projeções Futuras
Diego Faust, um conhecido líder no mundo dos investimentos, pondera que muitas dessas empresas enfrentaram desafios por não atingir expectativas anteriores.
“Tem muita gente que comprou os papéis em 2020, 2021, quando os juros estavam baixo e perspectivas positivas foram traçadas. Essas pessoas acabam se perguntando se as ações vão voltar a valer o que já valera”, comenta Diego.
Ele lembra que muitas das penny stocks atuais viram suas ações despencarem 80% ou 90%. A grande questão é: esses valores voltarão algum dia ao que eram?
Segundo ele, “a primeira pergunta que tem ser feita é se esses cenários, que foram imaginados lá atrás, estão se tomando realidade ou vão em algum momento se tomar realidade da forma como foi pensado. Se a resposta for não, aí, de fato, acho que a resposta é que também esses papéis não voltam para o preço que estavam”.