De acordo com o Departamento de Segurança Interna dos EUA (DHS), o governo americano emitiu 28.050 vistos de imigrante para brasileiros no ano passado, o maior número desde que se tem registros. Do total desses green cards, 48% estão nas mãos de pessoas que imigram para trabalhar, 2% por refúgio, asilo ou outros programas do governo, e os outros 50% dos vistos foram concedidos por parentesco.
Entre 2021 e 2023, pouco mais de 3,5 mil brasileiros foram contratados por empresas dos EUA via certificação laboral (através do visto EB-3), levantou o escritório de advocacia especializado em direito imigratório AG Immigration. Com base em registros do Departamento de Trabalho (DOL) norte-americano, o escritório também analisou que do total de brasileiros contratados nesse período, 32,8% tinham ensino superior, 50,3% completaram o ensino médio, 4,2% o ensino fundamental e 12,7% não declararam o grau de escolaridade.
“A pesquisa demonstra que mais de 51% deles [brasileiros contratados nos EUA] estão no subemprego”, revela Leda Oliveira, CEO da AG Immigration. Ainda de acordo com o estudo, a maior parte das pessoas sem ensino superior que receberam o visto permanente entre 2021 e 2023 estão trabalhando como faxineiros, empacotadores, repositores, babás, açougueiros, abatedores, atendentes de fast food, balconistas, motoristas de caminhão e cozinheiros.
O curso mais citado pelas pessoas com graduação que conquistaram o EB-3 é administração. “[Essa formação] sempre ficou em primeiro, mas às vezes têm algumas alterações no resto do ranking. Em 2021, por exemplo, tínhamos uma presença muito forte de cursos relativos a ciências e tecnologia. Aí vieram os ‘layoffs’ [demissões] no Vale do Silício e eles caíram um pouquinho em 2022, mas continuaram ali entre os cinco primeiros”, analisa a diretora. Além disso, a faculdade mais mencionada nos registros do DOL durante os últimos três anos é a Universidade de São Paulo (USP).
Depois de administração, os cursos de graduação mais comuns entre os imigrantes contratados são engenharia elétrica/eletrônica (149), ciência da computação (133), engenharia mecânica (105) e direito (58), respectivamente. Das vinte graduações listadas pelo escritório de advocacia, doze são da área de exatas. “São campos que impactam diretamente o crescimento econômico, a competitividade global e a inovação tecnológica de qualquer nação”, ressalta Oliveira.
Curso mais citado pelas pessoas com graduação que conquistaram o visto EB-3 é administração — Foto: Pexels
A especialista também observa que a imigração de brasileiros qualificados para os EUA não se restringe à área de STEM. Foram atuar na América do Norte profissionais formados em cursos como publicidade, propaganda e marketing (37), comunicação (31), medicina (20) e arquitetura (19). Já no ranking das faculdades, o destaque fica para o estado de São Paulo. Para além da USP, com 86 graduados contratados por empresas dos EUA entre 2021 e 2023, estão Mackenzie (56), Unip (55), FGV (32) e Unesp (30). Com 29 graduados, a faculdade Estácio é a primeira fora de São Paulo a aparecer na lista.
“A lista inclui a presença de faculdades voltadas especificamente para o ensino de engenharia e tecnologia, reforçando um movimento de fuga de cérebros do Brasil para os EUA nessas áreas”, sugere Oliveira.
Na perspectiva de Liz Dell’Ome, advogada especialista em imigração e fundadora do escritório Dell’Ome Law Firm, o mercado de trabalho norte-americano valoriza a versatilidade do administrador. “Isso ocorre especialmente em um cenário onde há uma forte demanda por lideranças qualificadas para responder às mudanças rápidas e à competitividade global”, observa a executiva.
“O mercado americano valoriza a capacidade dos brasileiros de demonstrar flexibilidade e adaptabilidade em contextos que exigem resolução criativa de problemas e rápida adaptação a mudanças”, acrescenta Dell’Ome.
A diretora ainda aconselha que pessoas sem formação acadêmica interessadas em trabalhar nos EUA conheçam o visto H-2B, destinado a trabalhadores temporários não agrícolas em áreas com escassez de mão de obra. “Embora seja um visto de não imigrante, ele pode facilitar o ingresso de estrangeiros no mercado de trabalho americano e abrir portas para futuras oportunidades de imigração permanente”, explica.
Para além disso, a advogada cita as áreas de manutenção predial, hotelaria, turismo, recepção e atendimento que empregam brasileiros sem formação acadêmica. Dell’Ome, por fim, destaca que profissionais com cursos técnicos específicos na área de tecnologia encontram oportunidades facilmente, assim como pessoas com experiência prática em aviação civil.