O ex-presidente da estatal critica a maioria do governo no Conselho de Administração da companhia e defende a privatização.
O ex-presidente da Petrobras Roberto Castello Branco disse que a estatal sofre intervenção do governo há pelo menos 50 anos e defendeu a privatização da petroleira. Na avaliação do economista, as frequentes trocas de comando e a indicação da maioria dos integrantes do Conselho de Administração pelo Palácio do Planalto enfraquecem a companhia.
Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo publicada na quinta-feira (16 de maio de 2024), Castello Branco disse que o intervencionismo na empresa “é algo que não é só neste governo, é algo que vem de muito tempo”.
E justificou: “Quando era presidente da Petrobras, [Ernesto] Geisel reclamava do então ministro da Fazenda [Antônio] Delfim Netto por ter subsidiado preços de combustíveis. Então, há 50 anos já existia esse tipo de coisa”.
Na terça-feira (14 de maio de 2024), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) demitiu Jean Paul Prates do cargo de presidente da Petrobras. O posto será ocupado pela ex-diretora-geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) Magda Chambriard.
Castello Branco presidiu a estatal petroleira por pouco mais de 2 anos, de janeiro de 2019 a abril de 2021. Nos últimos 8 anos, a Petrobras teve 8 trocas no comando.
Segundo o economista, as movimentações no alto escalão da companhia levam à mudança de prioridades e não são positivas. “É uma pena, porque a Petrobras tem técnicos muito bons.
Tem alguns dos engenheiros de petróleo e biólogos melhores do mundo. Tem excelência em tecnologia, você vê os prêmios internacionais que a empresa ganha. Mas tudo é desfeito pelas gestões”, disse.
Na visão de Castello Branco, a indicação da maioria dos integrantes do Conselho de Administração da Petrobras pelo governo federal também atrapalha. Ele afirma que essas pessoas não são guiadas por aspectos técnicos, mas sim pela defesa dos interesses do Planalto.
O ex-presidente da Petrobras defendeu que a empresa seja privatizada. “O ideal é que a empresa saísse das páginas de política na mídia para ficar só nas páginas de economia e finanças, e ponto. Isso é ser uma empresa normal”, afirmou.
Sobre a indicação de Chambriard para substituir Prates, Castello Branco apontou como pontos negativos o “alinhamento total” da ex-diretora da ANP com o governo Lula e o fato de ela ter atuado na iniciativa privada. Também mencionou que suas experiências técnicas podem não ser suficientes para ter um bom desempenho na presidência da empresa.
“Eu tenho visto ao longo da minha carreira, não só no setor de petróleo como em outros setores da atividade econômica, como mineração, que muitas vezes um técnico excelente dá um péssimo executivo”, concluiu.